Cântonos  

Os pássaros

cantam e rodeiam sem parar

sentindo a brandura dos dias outonais

carregados do pesar sereno que vem do chão,

condizente ao desfazer das folhas que,

um dia,

foram o exalar do viço pulsante de tudo que vive. 

Deixo,

aceito,

o sopro suave que vem através das árvores,

dispersar as memórias remotas que eu prendia,

enclausuradas entre os meus dedos, 

atadas como poeiras embaixo das minhas unhas...

tudo seguindo em um embolar de lembranças e folhas alaranjadas.

Mas como que um alardeio,

cantam, encantam, os rouxinóis!

Chacoalhando os muros, torres e sinetas 

do meu coração,

lembrando que o pesar do amar, 

não inclui o desfazer-se de si. 

Com esse entendimento,

percorro as pontes demarcadas,

entre o prescindível e o essencial,

expulsando de mim o amargo fruto da consternação,

e irrigando o amor que percorre,

afavelmente, 

em minhas raízes.