Camões? Quevedo? Petrarca?

Luísa, dificilmente podemos reivindicar

A originalidade total ... Achamo-nos

Discorrendo pelo curso das falas e das

Letras. Todos nos devemos a todas, e

Vice-versa ... Ou não tão vece-versa.

Sim pordemos afirmar que algum, Que-

Vedo, bebeu doutro, Camões, a inspi-

Ração ... sobre o amor, Amor ... huma-

No ou Divino ou, "ámbolos" (que escre-

Vem escritores estritos, restritos no

Seio da "literatura" dita "galega" ...). Eis

O soneto quevedesco ou quevediano,

"Definiendo el amor, Amor?"

...

Es hielo abrasador, es fuego helado,

es herida que duele y no se siente,

es un soñado bien, un mal presente,

es un breve descanso muy cansado.

Es un descuido que nos da cuidado,

un cobarde con nombre de valiente,

un andar solitario entre la gente,

un amar solamente ser amado.

Es una libertad encarcelada,

que dura hasta el postrero parasismo,

enfermedad que crece si es curada.

Éste es el niño Amor, éste es tu abismo:

mirad cuál amistad tendrá con nada

el que en todo es contrario de sí mismo.

...

Mas acontece que houve outro soneto,

Camoniano, anterior ao de Quevedo.

Haverá mesmo quem afirme, castelhano

"Enfarelado", que tal soneto nada deve

a este de Camões, que cito literal Ima-

Gino, Luísa, que os conheces e sabes

Bem qual possa ser modelo do outro:

...

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

...

Ainda que autores e sábios asseveram

Que ambos bebem na mesma fonte,

Das contradições prazerosas ... Petrarca!