CACHECOL BRILHANTE
No dia do teu enterro
um cachecol brilhante
ao redor do teu pescoço lembrou o universo.
Se o tirassem de ti surgiriam estrelas.
Alguns disseram ser moda a peça cintilante
no cadáver perecível
Eu disse que era a boca da noite,
a Via-Láctea em um cachecol diante dos presentes
e até por isso tu não estavas somente comigo.
Reparei, porém,
que o teu vestido também brilhava
e tudo girava e girava ao meu redor.
Tu havia morrido,
mas ao mesmo tempo jazias cheia de luzes.
Você pediu um cachecol brilhante
no teu velório
e ele mostrou bem
o que tu pensavas sobre a morte:
é chegar em um lugar distante
e ao mesmo tempo acessível;
é ter um coração faiscante
embora sem pulsação percebível;
é fazer nascer o sol,
sendo a lembrança de ti
aquilo que também despontaria longe,
no horizonte do seu ser amado,
no meu horizonte.