Sigo

A janela daqui continua perfeitamente quadrada

Meio difícil de abrir, velha, barulhenta,

Mas faz o papel

A porta range ao abrir e a trava também clama seu lamento para fechar

Saindo na sala, um tanto de formas, cores e sons fora de harmonia e fora de seus lugares

E já não é mais o meu lugar

Aquele velho apartamento amarelado no Edifício Da Caixa D'água

A guitarra, os violões, os livros, já não são tão atraentes

Não me apego

Não quero

Não amo

Não me leio

Não me digo

Se não amo, amo demais

Acordo aos soluços no meio de uma tarde dilacerante

Digo, "essa me pegou de jeito"

E será que me romantizo ou me pragmatizo?

Quantos dilemas,

quantos segredos,

quantos retornos indesejáveis

Será a linguagem que nos faz assim tão miseráveis?

Serão os tantos aforismos lacanianos?

Será o absurdo de Camus?

De Kafka?

Orwell?

Teria eu que me sensibilizar-me como Cobain, ou abraçar o absurdo como Bukowski?

A fortes e estridentes batidas deste trem desajustado

Sigo meu caminho

Lucas Leal
Enviado por Lucas Leal em 14/04/2024
Reeditado em 27/04/2024
Código do texto: T8041156
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