Gauderiando

GAUDERIANDO

Jorge Linhaça

Continuo de rédea no chão, abichornado, rebenqueado de saudade...

mas na ronda da vida, na campereada de minha querência, domo a minha

rebeldia, estanco o farrapo sangue ,que escorre de meu coração em farrapos,

orelho o meu espírito bagual, a abro cancha pelas coxilhas até me arrinconar

na segurança de meu galpão, vendo o reponte do sol que descamba por detrás do cerro.

E, se, nas mateadas da vida, vez por outra me passam a cuia de caúna, não enjeito parada e não dou changui.

Sou potro redomão aquerenciado de minha coxilha, mas, se é preciso invernar o sentimento; rasquetear o amor, até que seja purgado de todas as mágoas, largo mão de meu rincão e seguro no peito o minuano.

Dispo o poncho da vaidade e do orgulho, descubro a cabeça do meu chapéu campeiro,

apago o pito e tiro dois dedos de prosa com o Patrão Celeste.

E se for preciso repechar o cerro do amor, reponto a prenda sem medo.

Tenho o lombo cheio de cueras, e se a cuscada ladrar à minha passagem, pelos cruzos da vida, ou culatrear o meus passos, hão de ver que sou cutuba, que não vivo de corinchos e que, se preciso corto campo para chegar ao meu destino.

Continuo guapeando, apesar dos guascaços da desilusão, e se é preciso encharcar o chão com as lágrimas de sangue que me brotam do peito, que se tornem elas um tapete de pétalas de rubras rosas a perfumar os caminhos de minha prenda.