DA SENHORA E DO GATO BRANCO

Saudações à você que segue comigo

Sou grato que não fostes inda embora

Hoje acordei sem teto, tal qual mendigo

Como se minha casa me pusesse fora

Não pertencia a nada ou à mim mesmo

Algo que se repete em ciclos de tempo

Por isso eu fui à praça pegar ar fresco

Sentei-me, fixando esse pensamento

De abelhas, flores, árvores e do vento

Reclinei-me, girando a cabeça, tonto

O sol ferindo os meus olhos em cheio

Aéreo, desconfortável, naquele canto

Sem perceber essa senhora que veio

De qualquer lugar, eu não sei de onde

Obliterando o meu sol entre seu meio

Fina dona, maneiras castas, discreta

Aquele olhar triste mirou-me em cheio

Não ouso dizer que o tal tipo não afeta

Um coração velho sem qualquer receio

Breves segundos viraram-me do avesso

Tropeçando, sem rumo, fui me perdendo

Em permeios e voltas nesse arremesso

De dentro pra fora, sorvido no seu lenço

Com lágrimas e o batom que o manchava

E desses rodopios nervosos fez-se a pausa

O alívio que ela não esperava, na calçada

Um gatinho todo branco balançava a calda

E dentro dela, ao mesmo tempo balançou

Suave e calma essa chama quase apagada

O sorriso dela junto com o meu se formou

Juro e a sua bochecha estava até corada

Levantou-se, acenou, fez um breve gracejo

Pegou o gato, o aninhando em seus braços

Toda essa emanação de amor foi o lampejo

Quente e abrazador preenchendo espaços

Vazios em mim, nela, e nós dois deixamos

A praça melhores do que quando entramos