Essencia
Quebrei minhas palavras
para ver minha essência
evaporar nas frases
segurei-as para voar
mas não parecia sentido algum
fiquei com medo de tocar o chão
a ilusão de olhar tudo pelo alto
tão pequeno
tão tocável
tão imenso
e o real é o tamanho proporcional do que somos
um copo meio vazio
um copo meio dágua
queria transbordar
me tornar imensamente cheia
Talvez tenha escolhido o lugar errado para isso
Não vivemos de sonhos
Mas de parte deles
Somo tão barulhentos
e poucos silenciosos
que entrar na ponta dos pés é algo tão difícil
nossos pesos estrondam
a vida dos outros
é capaz de adoecer alguém, nos seus ecos
o que me fascina é ouvir minha voz
é alguém para me escutar
alguém para dividir
o seu silêncio enquanto me escuto por horas a fio
Em minhas gravações, me escuto mais do que escuto alguém
Parece ser um defeito
de fábrica, mas por diversas vezes eu retorno para me ouvir
é assim que evaporo o que pode ser um peso
Carrego tantos, que me doem o peito
e os repito para que deixem de doer
e quando deixam, percebo que estou com os pés ao chão
do mesmo tamanho de algo que agigantei como se houvesse necessidade para isso
eu fito aquele objeto, porque as pessoas parecem tão frias
igual ao copo com água
ocupando espaço e se limitando estar dentro deles.
As vezes se esvaziando mais para caber no copo de alguém
até se tornarem vazias , suas piores versões e nem se dão conta disso.
Será que quando se olham, após evapora-se conseguem ver seu reflexo
no vidro ou na garrafa plástica que ocupam?
Todos os dias eu assumo o risco de me derramar, sem molhar ninguém
apenas sentir-me