Essencia

Quebrei minhas palavras

para ver minha essência

evaporar nas frases

segurei-as para voar

mas não parecia sentido algum

fiquei com medo de tocar o chão

a ilusão de olhar tudo pelo alto

tão pequeno

tão tocável

tão imenso

e o real é o tamanho proporcional do que somos

um copo meio vazio

um copo meio dágua

queria transbordar

me tornar imensamente cheia

Talvez tenha escolhido o lugar errado para isso

Não vivemos de sonhos

Mas de parte deles

Somo tão barulhentos

e poucos silenciosos

que entrar na ponta dos pés é algo tão difícil

nossos pesos estrondam

a vida dos outros

é capaz de adoecer alguém, nos seus ecos

o que me fascina é ouvir minha voz

é alguém para me escutar

alguém para dividir

o seu silêncio enquanto me escuto por horas a fio

Em minhas gravações, me escuto mais do que escuto alguém

Parece ser um defeito

de fábrica, mas por diversas vezes eu retorno para me ouvir

é assim que evaporo o que pode ser um peso

Carrego tantos, que me doem o peito

e os repito para que deixem de doer

e quando deixam, percebo que estou com os pés ao chão

do mesmo tamanho de algo que agigantei como se houvesse necessidade para isso

eu fito aquele objeto, porque as pessoas parecem tão frias

igual ao copo com água

ocupando espaço e se limitando estar dentro deles.

As vezes se esvaziando mais para caber no copo de alguém

até se tornarem vazias , suas piores versões e nem se dão conta disso.

Será que quando se olham, após evapora-se conseguem ver seu reflexo

no vidro ou na garrafa plástica que ocupam?

Todos os dias eu assumo o risco de me derramar, sem molhar ninguém

apenas sentir-me

Dory Mendonça
Enviado por Dory Mendonça em 29/03/2024
Reeditado em 29/03/2024
Código do texto: T8030214
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