Chova-me!

Vem em mim como se tu fosses chuva

Eu, terra febril, acolherei tuas águas

Vem e sacia minha sede insana

Que exalando cio te serei profana.

Beija a minha boca até escorrer enzimas

Desfaz-me em afagos alternando climas.

Que te serei o fogo, a chama mais legítima,

Desse desejo primitivo que de mim emana.

Reinventa o espaço entre o ontem e o amanhã.

Deita-te em meu solo, serei teu talismã.

Preenche meus veios, faz ousadias.

Água-te em mim com toda sintonia.

E quando tuas nuvens sentirem-se libertas

E eu, fecunda, sentir-me extasiada

Outona-te para outro ciclo que estarei à espera.

Ardente, pulsante, sedenta e encantada.

Dôra Leal