ÍNTIMO
Guardei uma frase inteira em tua boca
Aquele ontem que não volta
O ontem sepultado no amargo do acaso!
Tanto disse naquele olhar
E tanto soube de ti com o teu silêncio
Entendimento franco e fino!
Sim, esses encontros agudos
Rebentando pontes cruciais
Retirando os pontos finais
Avivando delírios
Demolindo máscaras domésticas
Sorrisos apodrecidos, embutidos desde o ano passado
Guardei uma frase inteira em tua boca
Aquele ontem que não volta
Abracei tua face com um desejo contido
Esbravejei por entre os dedos
Agarrei tua incerteza
Derramei a hesitação de uma vida inteira
Fiz trono, teu colo
Guardei minha insensatez em tua língua
Guardei minha desgraça em tuas mãos
Guardei meu melhor instante em tua sorte
Tua lucidez, matei na unha
Desfiz aquela frase inteira da tua boca
Centímetros de paz
Guardei tudo antes por aquele declínio
[àquela altura da noite!
A felicidade tão clandestina, despida já não estava mais...