BEIJOS
Minha amada nunca mais me beijou
e eu parei de tentar
quando ela empurrou o meu rosto.
Foi assim que perdi a senha da sua língua,
e quase esqueci que os antigos beijos saíam na cozinha,
saíam no sofá, na cama ou no terraço.
Hoje seus lábios estão fechados
e minha amada pouco explica a recusa.
Ela reclamou, no entanto,
de um mau cheiro no ar;
de beijos rudes e ásperos.
Não foi isso, pois certamente ela sabe
que nunca me devolveu a pureza
meramente pura e simples.
Mas agora parece
que o amor não sairá mais pela sua boca,
e a ausência do beijo significa um trajeto sem volta,
sendo triste a recusa,
sendo triste o final de tudo.
O simbolismo de um beijo é enorme
Só beijamos a quem amamos.
Minha amada me faz não tentar mais,
porque talvez ela não me ame.
O que vivemos agora então?
Estamos juntos,
estamos separados.
Eu espero um desfecho sério
e me contento com restos
Minha amada espera minha desistência enfim,
para dizer que o desperdício foi meu.
Ora, eu não desperdicei nada.
Não fui como ela
que com a sua boca produziu fumaças,
seguiu pelos trilhos do meu desejo
deixando-me na plataforma da estação
avistando cabeças doentes iguais a minha.
Lembro-me quando ela gritava o meu nome!
Ela gritava e agora é sonho,
um grito de amor para o seu amor
e agora é sonho.
Minha amada nunca mais me beijou.
Perdi a senha da sua língua.
O mau cheiro não foi maior do que a sua culpa.
O simbolismo do beijo é para quem amamos
e agora ela não beijará a minha boca doente.
Minha amada produziu fumaças e,
nesse instante, deliro.