Entra amor, fica à vontade

A primeira vez que recebi o amor

Foi na segunda série

Pele preta, cabelos amarelados

No sorriso descontraído

Faltava dente do lado

No segundo dia de aula

Perguntou se podia ser meu namorado

Quando retornastes pela segunda vez

Era mais alto e parrudo

Tinha todo um gingado

Me deixou apaixonado

Fizemos planos e promessas

Mas traiu minha confiança

Da maneira mais perversa

E como o mundo gira

Nos encontramos anos depois

Você veio de peito aberto

Mas eu o apunhalei com o que achava certo

Na terceira vez chegou de mansinho

Parecia um cordeirinho

Mas era um lobo que vestia

Me usou e manipulou

Me manteve em suas mãos

Me prendia em suas vinhas

Na penumbra tão sozinha

Ao seu lado experimentei a solidão

Na quarta vez foi de rompante

Acreditei por uns instante, que era eterno

Te dei todo meu afeto

E toda a minha insegurança

Nós fizemos nossa dança

Gargalhadas ao fim de tarde

Era o amor pra toda vida

Mas me largou com um "não dá"

E uma filha no ventre de outra

E na vez subsequente

Veio de um jeito diferente

Me atravessou com tudo

Me mostrou um novo mundo

Me ensinou a respirar, mesmo de baixo d'água

Mas os dias foram passando

E você foi me cobrando

Uma versão minha que não existia

Você era tão fria e quase apagou o sol do meu peito

Na sexta você veio

Com cheiro de rosas

A blusa desbotada, o óculos engordurado

Um sorriso quente e o cabelo desgrenhado

Pensei então, que de repente

Tudo agora faria sentido

Mas seu tempo era esguio

Mal passava ele comigo

E num sopro do destino

A gente se perdeu

E na última vez que o vi, amor

Tinha o sorriso travesso

Os olhos que me devoravam inteira

O abraço capaz de engolir tanta grandeza

Mas era tão irresponsável

Tão bonito e tão falho

Mentiroso e calculista

Eita amor desajeitado

Passou como um furacão

Só deixou devastação

No nosso próximo encontro

Que será, sei lá, o nono?

Espero que fique mais tempo

Venha antes de novembro

Ou das chuvas de agosto

Até lá deixarei ao seu gosto

Meu coração pra te receber

Aos pouco vou ajeitando tudo

Ainda tá meio confuso, mas a gente dá um jeito

Dessa vez, venha tranquilo

Que sejamos bons amigo e me faça um bom café

Compartilhe da minha fé e de mim tenha orgulho

E se me encontrar lá no fundo, me jogue corda pra puxar

Se me encontrar louca, enlouqueça comigo

Jogar conversa fora e lembrar que outrora

Éramos inconsequentes

E nos encontramos finalmente

Nessa valsa sem sentido

Juliana Bruns
Enviado por Juliana Bruns em 10/01/2024
Reeditado em 06/09/2024
Código do texto: T7973683
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