Maternidade

O ventre desnudo

Prazer que antecede a dor

Mulher parturiente, portal da vida

Simula o mar no ventre

Criação e tempestade entre as pernas

Existem mães, existem mulheres

Existem mães que são mulheres

Me fizeram mãe me fiz mulher

No amor e na dor forjada

Por dores que não escolhi doer

Me abandonaram no pedestal

Clausura hipócrita de cristal

O parto é o início da partida

O cordão umbilical é só a metáfora

Da despedida que nunca finda

Cicatriz que se perpetua na prole

A cada ano de vida

Trocamos suas primaveras

Por mais invernos nossos

Ser mãe é parir um pouco a cada dia

A maternidade é a perpetuação do luto

É perda diária de nós mesmas

É um adeus programado

Esse é nosso legado

Por isso amamos e destruímos

Com a mesma intensidade

O objeto de nossa dor

Não há glamour na maternidade

Além da ruptura contínua de si mesma

Mutilação psíquica desde o parto

O ninho não é construído

É desfeito a cada dia

Há mães que devoram os filhos

Os querem de retorno ao ventre

A maternidade é canibalismo

Sou mãe sou mulher sou canibal

Sou autofágica nostálgica

Acostumada a perder minha cria

Desde o parto, todo dia

Luís Carlos Pileggi Costa
Enviado por Luís Carlos Pileggi Costa em 28/12/2023
Código do texto: T7963494
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