OLHOS FAMINTOS

Quando olho em teus olhos castanhos

Me visto com as asas de tuas pestanas

E voo clandestinamente nas tuas entranhas

Neles me batizo renasço me banho...

Teus olhos com pupilas de negrume

Dois buracos negros me envolvem

Me seduzem como moscas no estrume

E como gados miudos me fazem nuvens...

Qual uma cruz dois caminhos

Uma me seduz qual vinho

A outra amarga minha boca

E despeja minha bílis na doca

Teu olhar é cantilena de sereia

Me sinto leve, o longe é breve

O calor é transformado em neve

E o ouro da praia vira areia

Teu olhar como planta carnívora

Me devora mas morro embriagado

No cálice do mais puro melado

Como turistas atraídos por Évora

Teus olhos qual duas fontes

Onde Dionísio fabrica seus vinhos

Quando deles bebo sem fim horizontes

E os montes são meus vizinhos...

Quando abertos são um mergulho

Na capilaridade das vitórias régias

De tuas pupilas em que marulho

Como aluno quando sai de férias...

Abertos são meu alvará de soltura

Mais quando se fecham pra explodir em baga

Ainda sou como ave faminta e notívaga

Que se alimenta de tua carne crua...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 24/12/2023
Código do texto: T7960719
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