A bela da janela
Diferente de todas que já vi,
No quesito doçura parecia
Uma deusa encarnada bem ali,
Naquele mesmo ônibus que eu ia.
Já ia com vontade de ficar,
Não parado ali sem viajar,
Mas ficar, colado, junto dela,
Admirando-a enquanto a acarinhava,
Ao passo que ela sorria e olhava
A paisagem da estrada na janela.
Não era só a beleza aparente
Em sua face fofinha estampada,
No seu corpo nutrido, envolvente,
Sinuoso igualmente aquela estrada.
Qualquer um era fácil se perder
Num olhar que prendia sem querer
Era prisão, com liberdade, sem ter cela,
Minha vontade ultrapassava cem por cento,
Nem precisava processo ou julgamento
Eu queria mesmo era ficar preso nela.
Estava fria a estrada percorrida
E a névoa esvoaçava sobre a serra,
Paisagem ainda verde, parecida
Com um lençol de esperança sobre a terra.
A esperança era lá, cá eu não tinha
De ter aquela garota por rainha,
Pois decerto já havia um rei da bela,
Então foi só como uma linda paisagem
Que a gente admira na viagem,
Mesmo querendo ficar, passa por ela.