EXISTÊNCIA INTEIRA

EXISTÊNCIA INTEIRA

A mulher

A Europa inteira

Sem muros altos

Na brisa do vento

Sem mais nem por que...

Berço verdejante

Terra aguada, mas que nada!

Em vaso de barro escarlate

Ninfeta, menina exubera

Num mundo de vermes e nefastos

Infantes de plástico estufados fálicos

Nos cafés de Paris e no baixo Leblon

Nos subúrbios e casas de luxo

Crescer e morrer, replantar semear

Degolada em fio da faca humana

Decepada, podada no sorriso da maldade

Asfixiada no caldo negro da injustiça

Cuspe da falsidade no rosto da verdade

Fazendo marolas e a barca se perde

Sei lá pra onde em arbustos seculares

Castelos de bonecos fantoches reis

Na Europa inteira e nas montanhas

No vôo da águia que cisca o pão alheio

E no arrulhar da paz da pomba na janela

A merda cai ao chão dos idiotas e desatentos

Squares espelhadas invernais

Orvalho em gelo cristal

Entre os muros altos do vaso

Excrementos, esterco, saliva quente

Rachado. Crescem raízes

De querer ter um amigo

"I've Got A Friend"

Agarra ávida à vida às ruas

Na elegância principesca entre pubs e cigarros

No jazz e suingue da Lousiana submersa

Jornais de ontem descansam no banco

E o velho dormindo ao olhar as letras

Pequenas mas enormes de sangue

Na subway um rosto a mais

Com medo, com a verdade e desconhecido

Rasteja nas paralelas em luzes neon a liberdade

Sonhando no mundo de Montechios e Capuletos

Nua a gritar panfletos, panfletários vãos

Nos primeiros de maio pelo Vietnã em Paz

Cavalos de fogo abrasivo à pele

E os "Deuses são astronautas"?

Nos idos da Gazeta e White House...

No silêncio da guarda besta em telefones vermelhos

Villages sedentárias em bay windows com branco pó gélido

Mistura-se em balde, lixo a dignidade

À lama dos afogados castelos

Perdendo a existência patética e circense

Na caatinga sertaneja, apenas uma gota

A lágrima

Por vergonha do mundo em desperdício

Queda do muro de Berlim

Saltar do Grand-Canyon

Do Empire ou Copan?

Frágil velha ninfeta em chinelos

Na brisa do vento dos outonos

Sem mais nem por que...

E um barquinho a navegar...

Sobras de pele dobram em veios de luta

De tentar chegar o tempo

Das projeções que fez guerreando

Em areia, asfalto, flor e possível amor...

Roubam-lhe a honra, as horas e minutos

No Big Ben ou Wall Street

Na sombra da figueira sagrada

Sem a lumiere da Eiffel,

Galhos metálicos retorcidos tombam

Morre em espuma...

Ferve podre uma maçã

Uma Europa inteira, a Terra

Uma inteira mulher

Derrete em flor de plástico

Sem mais nem por que...

Cíntia Thomé

Faz parte do livro da autora Cíntia Thomé - OLHOS DE FOLHA MINHA

pela livraria Saraiva

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DIREITOS REGISTRADOS. 2006

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 27/12/2007
Reeditado em 02/06/2008
Código do texto: T793332
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