Pousar sem querer nada
Nunca rastejei, sempre voei alto ,
pousei no jardim, na roseira...
e colhi o néctar de meus próprios voos,
desfrutei dos sentidos da minha alma,
dos almejos do meu coração.
Nunca tive medo de amar,
nem de entregar o meu amor
e, penso, era nesse voo sem limites
por cima da neblina, da névoa
de um céu carregado de tempestades
que a alma se inspirava...
Quantas janelas saltei para o voo,
quantos penhascos habitei até criar penas...
quantas estradas percorri alucinada,
quantos porões abertos,
explícitos ao mundo?... também à você.
Fitei meus olhos, amei-me...
conquistei-me em profundidade
e nunca lamentei meu destino
ou minha sorte quando o voo doía,
quando a dor e o sangue das asas
escorriam dos olhos e era você
com seu sopro de alento
que, pacientemente, as secava...
Você, sempre me fazendo saber-me estrela,
me ensinando a me sentir na imensidão,
me incentivando a pousar sem querer nada
(só entregando amor),
me motivando, cotidianamente,
a comer meu cheiro, beijar meu gosto,
beber minhas próprias palavras no cálice do poema,
a abrir as cisternas de meu querer
para um sol escondido no céu,
enquanto minhas asas ainda perambulavam
o chão batido de minha corrida para o voo...