Memórias Acorrentadas
Cena do filme Razão e Sensibilidade - Link (*)
Eu sobrevivo às horas, ao tempo, - passam por mim…
Tantas lembranças dos amores não possíveis
Todos eles engavetados, fechados, acadeados
As portas maltratadas pelas intempéries dos tempos.
As traças, a ferrugem, o cupim, lá fazem morada
Um coração auto-acorrentado, ancorado, cá jaz
Olho do portão o cadeado… a paisagem é deserta
Diviso ao longe filas de gente e animais
Vão e vêm, de tempos em tempos, tal qual
Minha saudade dos anos que não voltam mais.
Então um vazio rasga minha carne e tudo o mais
Para alguns privilegiados o amor é segregado
Até por e do amor alguns são fiéis depositários
Trancafiados em porões a grades e cadeados
Protegidos pelas borboletas flores e colibris.
Quisera parar o tempo por uma fração de segundo
Perscrutar o céu, o mar, o deserto do teu pomar
Sentir o aroma, respirar o mesmo ar, teus lábios beijar…
Lá, onde a fantasia se esquiva do ser a encantar
Nem as joias mais raras diamantes e rubis
Ousam subornar os peões que a estão a guardar.
O tempo já passou, sempre vai passar Ahh!…
De que vale parar o tempo se não posso amar
O rei do tesouro abandonado partiu, - calado
Não sei em qual terra ele habita, enfim e confins
Há um coração que brada e sangra noite e dia
Mora entre as aves e flores em imensos jardins
Recitando em sussurros poemas e lindas melodias
Jamais cri existir lindos lábios cor de carmins
Enquanto tantos choram à míngua esmolando Um pouco de paraíso, paz, luz e felicidade
Ela se acorrenta às tormentas da saudade atroz
Lá, - onde o tempo parou e o amor agoniza, a sós.
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- Poema: Memórias Acorrentadas
- Autor: Júlio César Fernandes
- Série: Poema sem Marias
- Meu rascunho: novembro/2023.