O CACTO E O JARDINEIRO
Reza um conto perdido entre praias e ruas de pedra num certo lugar
Que o improvável quis se probabilizar na flecha que achou o seu arqueiro
Tiro certeiro naquele anseio onde o desejo decidiu-se ancorar
Incendiando um jardineiro que por um lindo cacto viu-se a sonhar!
No jardim, um jovem cacto erguido, segredo envolto por espinhos e mistério
E o riso sério oriundo de um destino que mostra o ouro, porém esconde o mapa
Na pele branca de prata, no longo e escuro liso véu eis um império
Tal como visitar distante hemisfério, de um encanto que seduz e arrebata!
Em cada pétala que se abre ao sol brilhante, o jardineiro vislumbra a beleza proibida,
Em sanha de ilusão desiludida, em nota de canção mal afinada
Que toca sinfonia na madrugada, que ostenta uma paixão em forma de cantiga
Que já nasceu antiga, talvez porque escrita na eterna chama incendiada!
Do afã platônico, o sonho então reluz na silhueta de um singelo jardineiro
Talhado em brumas de um querer passageiro, se viu no que não se passou
Porque o cacto ficou e se negou a ser folguedo simples e ligeiro
Redesenhando seu roteiro em seu olhar tão singular que o aprisionou!
Assim, o cacto e o jardineiro permanecem, a resistir e a sonhar
Aquele não querendo o seu regar, mas este impedido de fugir
O cacto fingindo não fingir, e o jardineiro pedindo asas pra voar
Para enfim pousar nos braços cujo abraço não lhe quis até aqui!
Lição trazida na viagem em bela história de desejos ardentes
Por vezes inconsequentes, vestidos pela inglória de uma lei ao proibido
Pecado santo concebido na fé dos paradigmas decadentes
Narrado por silêncios eloquentes, gritado em cada grito reprimido!
Pra ser talvez a mais real das presumíveis irrealidades
E a plenitude das metades, que não se juntam ou separam
Em lábios quentes que não se beijaram, em sintonia de ambiguidades
Livres em suas grades, vencidos nestes versos que os derrotaram!