Amar outrem
É necessário sairmos de nós mesmos se quisermos amar
É condição sine qua non, eu diria, deixarmos o eu de lado
Somente assim podemos penetrar efetivamente no outro
Despidos de nós mesmos, podemos vestir o outro
Mas a razão há sempre de nos dar motivos para não fazê-lo
A razão serve ao ego, o ego serve a si mesmo e por isso não ama
O verdadeiro amador desloca sua energia para o outro, por isso é sedutor
Só seduz quem olha com atenção, quem deseja o outro verdadeiramente
Quem escuta cada palavra, observa cada ato, sente cada sensação com a mesma reverência de um lunático olhando a lua
Ama quem se entrega, não de corpo, mas de espírito
O corpo serve à razão, a razão serve ao ego e o ego serve a si mesmo
logo o corpo pode servir tão somente para o deleite do ego
por isso nos evaidecemos de atrair alguém, de levar para cama, de conquistar o corpo
Esse envaidecer-se é o gozo do ego que troca a experiência amorosa pela posse carnal
A primeira lhe é abjeta pois implica se entregar ao outro, a segunda é seu paraíso pois implica possuir o outro em sua manifestação material
Amar é desistir do ego
Egoístas não amam, apenas possuem.