TUA BOCA
Eis a fonte dos desejos
Que me lançam no espaço vazio
De sonhos irrealizáveis.
Fonte de suspiros,
Que me tiram da simplicidade
Do cotidiano de minha vida
E me faz cometer loucuras
Simplesmente por um sorriso
Que nada promete.
Essa fonte límpida e calma
Que nasce a cada amanhecer,
Às vezes sai da tranquilidade,
E rompe a mansidão de seu cálido leito,
Transborda em torrentes tempestuosas
Que me açoitam a carne
E penetram em minhas entranhas
Com palavras afiadas,
Tal qual navalhas
Que rasgam pouco a pouco os meus sonhos.
Essa fonte de lábios carnudos e impetuosos
Se abre às vezes, no esgar de um sorriso,
Como uma esmola tímida e indulgente
Para este pobre mendigo
E depois se afasta indiferente.
Outras vezes, nega-me friamente
E se esconde na sombra de seu silêncio
Quando estendo os braços humildemente,
Tento saciar minha sede
No doce regato de seus lábios
E não recebo uma só gota dos seus beijos.
Então amaldiçoo essa fonte fria,
Boca estéril dos meus desejos.