Um rancho, uma viola e um amor
A minha viola está muda
Desde que você partiu
Aqui já não cai a chuva
O cachorro não mais latiu
O pássaro que cantava afinado
Lá na nossa goiabeira
Hoje, vive ali calado
Pelos cantos, de bobeira
A flor que desabrochava
Feliz para te perfumar
Hoje olhei, ela murchava
O botão fechado está
O galo não mais cantou
No alvorecer do dia
O tico tico e o beija flor
Voaram na ventania
Nosso rancho é só tristeza
Os bichos estão inquietos
Acabou -se a beleza
Hoje, parece um deserto
O feijão lá do roçado
Nem chegou a florescer
O milho ali plantado
Não sei se dará para côlher
Até mesmo o luar
Daquele céu estrelado
Diferente ele está
Já não é tão iluminado
A abelha que fazia o mel
No tronco do cajueiro
Se foi na imensidão do céu
Sem deixar sequer roteiro
O café feito no fogo a lenha
Já não tem o cheiro
Volte logo amor, venha
Te quero de Janeiro a Janeiro
As águas do nosso rio
Hoje estão escurecidas
O nosso ninho é só frio frio
Eu vivo uma vida sem vida
A flor da laranjeira caiu
Não vingou mais nem um fruto
A vaca no pasto, alto mugiu
Como a lamentar um luto
Nossos cavalos bonitos
Que passeavámos de mãos dadas
Agora vivem esquesitos
Os dois de cabeças baixas
Eu vou armar a nossa rede
Naquele mesmo lugar
Vou enfeitar a parede
Pra quando você chegar
Já estou aqui deitado
Pronto a te esperar
A viola aqui do lado
Esperando eu tocar
Ouço a porteira ranger
Levanto-me de supetão
Vejo o meu amor aparecer
Acelerou o meu coração....