Feitos celestes
Dia 27 de setembro
Olhamos a lua ao mesmo tempo
Sei que você olhou porque mandamos fotos dela um ao outro,
comemorando que fizemos um gesto tão amoroso
Era romântico e simples
A deusa da lua caprichou em sua obra-prima,
como se fosse seu último show e ela cantaria uma música às suas ouvintes mais assíduas
A lua era azulada
Não de verdade, era só o nome da lua cheia naquela específica noite de sexta
Desde então, a lua não mudou
Continuou cintilante como um prisma feito das fantasias de duas crianças travessas que brincavam pelas esquinas
Era especial de um jeito anormal
Seus eclipses aconteciam, a luz desaparecia
mas não passava de uma brincadeira bestinha, uma provocação da manhã do sol com a lua
Como um xingamento não levado a sério ou uma brincadeira recebida com um sorriso terno
Como se fosse um adeus temporário
Como uma mãe quando seu rosto é destampado e ela diz "acho" ao seu filho beirando o desesperado
Mas um dia, você se foi do nada
De vez em quando, o sol sentia sua falta
Eu falava de você para ela e ela me falava da lua
E as conversas que se davam por amor e certeza
Se tornaram cheias de desgosto e miséria
O sol disse que você voltaria
A lua disse que não esperaria
Ambas escolheram cuidar da minha pessoa enquanto passava pela melancolia
Deixei a tristeza e investi na incerteza
De repente, o suspense não se tornava mais presente
Até os astros mais constantes se perderam
me deixaram em meio à espera do meu "uma hora ele chega"
A segunda estrela mais próxima se fundiu em queixa
"Por que você espera o garoto que na noite te deixa desperto? Por que o almeja além do tempo dessa terra?"
Sem palavras a dizer
Descansei minha cabeça nos ombros da estrela
Por breves momentos, senti sua presença
Mas foi tudo um sonho envolto em esperança
Depois do despertar
A lua estava cheia
O sol se mantinha nossa estrela
Estava tudo no seu lugar
Menos você, que eu continuaria a esperar