A questão
Me perguntaram certa vez se já amei verdadeiramente alguém, a resposta veio quase que de pronto em minha boca, mas a engoli a seco, sem pestanejar. Um questionamento sobre o assunto travou minha garganta e me impediu de falar, na verdade eu não sabia explicar o que era amar.
Quando se ama é simples, natural, sem explicação, pelo menos é esse o amor que busco e o que faz sentido ao meu coração, o resto tem outros nomes, alguns até sem razão.
Se me perguntasse se já senti algo por alguém de forma tão profunda que me fez perder o sentido e a razão de viver, respondo que sim, mas essa é a questão o amor não deveria trazer consigo a vontade de morrer ou se perder.
Se me perguntasse se já pensei em largar tudo e sumir no mundo para viver um sentimento que parecia sem rumo e sem fundo, respondo que sim, mas essa é a questão, o amor não deveria nos fazer querer romper com o mundo, nos apartar e viver recluso, pois assim daria lugar ao domínio e não ao amar.
Se me perguntasse se já imaginei estar amando, por querer tanto amar, e com o passar do tempo percebi que eu amava a ideia de amar e não o amor em si, respondo que sim, essa é a questão, em meu egoísmo feri de morte inocências, sentimentos e deixei um rastro enorme de ressentimentos.
Se me perguntasse se hoje amo alguém, de pronto respondo que não, não por não amar verdadeiramente, mas por amar a ponto de crer que quanto mais eu for em busca dele, mais ele se afastará de mim, essa é a questão o que eu sinto é tão sutil e voraz que não sei nomear, ao mesmo tempo que é simples se faz complicado a cada momento, quanto mais tento traze-lo para mim, mais o afasto de mim, numa dualidade sem fim, não quero mais sair de mim e viver esperando que ele aconteça, isso não é viver, é perder a cabeça.
Se me perguntasse o que falta para responder sim à questão inicial, sobre ter amado verdadeiramente, respondo que falta eu aprender a me amar em primeiro lugar, deixar que as coisas aconteçam, me curar de mim mesma, por que só assim quando o amor verdadeiro chegar, retornar, ficar, eu não terei de me explicar, simplesmente puxarei a cadeira para que ele possa se sentar, apreciar a vista junto a meu olhar e dizer: estou aqui e vim para ficar.