REPARTO
REPARTO
Como não pensar em ti
se foste aquela
que me preencheu de certezas
e trouxe a incerteza
de que um dia eu
conseguiria me rever
na solidão que tentávamos
apartar.
Era eu incontrolável
na vã tentativa de querer
tudo mudar, porque queria
que tudo permanecesse imutável.
Quem ama quer parar o tempo,
mas não se deve parar
no tempo.
É preciso peregrinar no sentido
que nos mantém atados.
Eu queria permanecer sempre dentro
da nossa essencialidade.
Porém, a vida nos arranca a fórceps
como uma parteira indiferente
ao produto.
Neste parto de mim
ficou em ti
e de mim em ti.
Somos (a)fetos mutilados,
de multi-lados,
como quebra-cabeças incompletos,
insolucionáveis.