NENHUM OLHAR
NENHUM OLHAR
Nem um olhar
nenhum olhar
que ninguém veja.
Há apenas o silêncio
em conserva,
preservando nosso
sopro de vida,
esse vento de morte
essa boca atada,
calada sobre tudo,
prostrada sobre o mundo.
E eis que sou convocado
a acordar o mundo
depois que o imundo
interceptou o sexo,
tomou-me sem nexo,
após o verbo
ser adjetivado.
Descobri que não sei
a gramática dos afetos.
A sintaxe do tempo
virou somente ausência,
semântica sem morfologia,
afonia do amor,
a nos sugerir
a preposição do (per)verso
na conjunção da carne.
Todo silêncio é refletido
quando a voz é ativa.
Todo silêncio é reflexo
da voz passiva.
Sinto falta da voz recíproca.
Eu quero um “a gente”
paciente.
Eu quero um nós
que possa ser
conjugado em todo
tempo, modo, pessoa.
Quero um sujeito plural
que seja singular.