NENHUM OLHAR

NENHUM OLHAR

Nem um olhar

nenhum olhar

que ninguém veja.

Há apenas o silêncio

em conserva,

preservando nosso

sopro de vida,

esse vento de morte

essa boca atada,

calada sobre tudo,

prostrada sobre o mundo.

E eis que sou convocado

a acordar o mundo

depois que o imundo

interceptou o sexo,

tomou-me sem nexo,

após o verbo

ser adjetivado.

Descobri que não sei

a gramática dos afetos.

A sintaxe do tempo

virou somente ausência,

semântica sem morfologia,

afonia do amor,

a nos sugerir

a preposição do (per)verso

na conjunção da carne.

Todo silêncio é refletido

quando a voz é ativa.

Todo silêncio é reflexo

da voz passiva.

Sinto falta da voz recíproca.

Eu quero um “a gente”

paciente.

Eu quero um nós

que possa ser

conjugado em todo

tempo, modo, pessoa.

Quero um sujeito plural

que seja singular.

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 10/10/2023
Código do texto: T7905366
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.