“Se Eu de Ti Me Esquecer” por Bernardo Guimarães

 

“Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso

Possão meus tristes labios desprender;

Para sempre absondone-me a esperança,

Se eu de ti me esquecer.

 

Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques

Sombra amiga, em que possa adormecer,

Não tenhão para mim murmúrio as agoas,

Se eu de ti me esquecer.

 

Em minhas mãos em aspide se mude

No mesmo instante a flôr, que eu for colher;

Em fel a fonte, a que chegar meus labios,

Se eu de ti me esquecer.

 

Em meu peregrinar jamais encontre

Pobre albergue, onde possa me acolher;

De plaga em plaga, foragido vague,

Se eu de ti me esquecer.

 

Qual sombra de prescito entre os viventes

Passe os miseros dias a gemer,

E em miseros dias a gemer,

E em meus martyrios me escarneça o mundo,

Se eu de ti me esquecer.

 

Se eu de ti me esquecer, nem uma lagrima

Caia sobre o sepulchro, em que eu jazer;

Por todos esquecido viva e morra,

Se eu de ti me esquecer.”