Os violinos voltaram

 

Eu também quis um violino no telhado,

um banjo que me falasse com suas cordas

zimbros de notas e pausas

e destilasse néctar de deuses em minha nova nebulosa.

 

Não sei porque nunca ousei tocar

meu violão de oito cordas e sete partituras de amor.

Eu sempre o via na sala ao lado

e muitas vezes sentado em minha frente

ou no outro canto da sala me olhando...

mas não via suas cordas, nem que nele podia música tocar.

 

Sempre achei que era um instrumento

que só pensava em música de computador, de internet,

que só queria saber de códigos, de fórmulas e de linhas

que se baseassem na cientificidade do cotidiano.

Jamais poderia imaginar que estava sempre

ao lado de meu amor de longa data,

o único que amo de amor verdadeiro, profundo e belo.

 

E quanto tempo andei com ele em pontos neutros,

sem nem perceber que poderia nele me perder.

Andava com vendas nos olhos e toalha de brocado sobre a cabeça

desejando ser uma pintura azul infinita e em perspectiva

aos pés de sua cama ouvindo Cármina Burana

orgiando promessas em horas de distração.

 

Ah, sou mendiga de seus afagos, sou pedinte de suas mãos,

me embrenho em misérias amargas e opulências sultanas

só para lhe agradar - e a mim prazer dar -.

Eu quero beber tay medrono em taças azul turqueza,

com ele, envenenar-me de beijos e suspiros,

após embriagar-me em seu desejo de morte e de viver dum sonho.

 

Eu também quero a sorte de morrer

num tiro disparado em uma batalha pelo céu

e, anjo de asas, ficar por lá, numa nuvem branca

como um macio e cheiroso leito

e, chorar com teu choro a emoção de dormir

sendo cuidada por teu olhar

e, ao acordar fugir contigo pelos mesmos telhados

que um dia me levaram chegar a tua porta entreaberta,

na mão um cinzel, para meu nome e a minha verdade,

em tua pele de Sol pra sempre, por toda eternidade tatuar.