Memória da Implosão

 

Ela percorreu o olhar sobre o tampo da mesa.

Os objetos, simbolicamente ali colocados,

com seus profundos significados,

trouxeram-lhe a memória de dedo de agulha,

a passagem de espelhos

(onde os olhos se veem no entrecruzar dos vãos),

a lágrima que derramou pela primeira vez

num chão sem charretes, sem carroças,

mas com um coração preso aos ferros azuis

das ruas interiores e exteriores,

embrulhado e seu próprio caos, em sua própria dor.

 

A rotação da terra mudou.

O mundo implodiu naquele instante

e um novo espaço foi construído

para o morar das chamas-eternas.

E o amor se mostrou como ele é.

 

Desnudou-se e se deixou ler

em todas suas linhas e entrelinhas.

Foram épocas de destilar lento e urgente.

Frenéticas mãos a desenharem

as profundezas em palavras...

 

essas que tantas vezes se calaram...

por não conseguirem mais expressar,

o todo da alma, a essência do ser...

O choro é a falta de palavras...

quando não consigo dizer, expressar

como agora, a alma em poiesis verbalizar... ...