Concerto final

Caminho em silêncio por entre as estrelas,

fui ler aos poetas e as suas musas,

fui tentar compreender, decifrar palavras.

Investigar porque elas dizem tanto,

porque não se calam.

Mesmo em silêncio elas falam.

E eu me pergunto:

onde eu desaprendi

a silenciar com palavras?

Ou, talvez, porque nunca aprendi

a palavras verbalizar?

E, assim, no meio da noite,

bem baixinho, para não acordar você

eu venho falar dessas loucuras,

dessa insônia, dessa insônia de palavras,

dessa insônia de poesia,

dessa insônia de jardins,

da procura de uma flor de pétula orvalhada,

de uma teia de amor

ou até de uma montanha abraçada pela neve,

de uma montanha abraçada pela névoa,

da qual, ainda hoje, só consigo ver o seu cume.

E as horas passam e o sono não vem,

e a última melodia também não cala no peito.

Ou, talvez cala fundo.

Faz tatuagem, deixa uma cicatriz,

mais uma pelas coisas ruins...

Eu mergulho no silêncio

e sinto falta do Sol,

do brilho do seu olhar.

Daquele sorriso de olho,

da timidez de seus raios

que, talvez, por constrangimento,

não alcançam me tocar

a não ser por meio da luz do seu olhar.

E a noite segue e o sono não vem

e as horas avançam e o tempo se vai.

E como o tempo passou...

E eu digo: como o tempo passou.

E lá se foram alguns séculos de vida.

De vida vivida. Chorada. Rida. Partida.

De cheiro. Suor. De dor. Amor.

Uma vida inteira,

se triste, alegre, não sei.

É uma mistura de sons.

E eu ainda procuro

a partitura do concerto final.