Hora Azul
"E se eu tremendo, senhora,
Viesse pálido agora
Lembrar-vos o sonho meu,
Com a fronte descorada
E com a voz sufocada
Dizer-vos baixo: - Sou eu!"
- Alvares de Azevedo
Mas lembro-me de vós, amigo. Sabes?
Das nossas pernoitadas infantis
Nas praças e nas praias das cidades,
Os olhares cruzados, juvenis,
Despertos na hora azul, embriagados
Do sal da lágrima que orvalha o cenho.
Em êxtase de riso, apaixonados
-- Ou sal do mar que banha o vosso engenho.
Quando os teus olhos fecham, que te sonda?
Que sonhas na solidão d'alvorada?
Na areia -- já não embalam-te as ondas --
Já não mais é amor que vos embriaga.
Fecha mais uma vez teus olhos brancos!
Lembra de mim, da hora azul tua amada!