Se as penas com que Amor tão mal me trata

 

Se as penas com que Amor tão mal me trata

Permitirem que eu tanto viva delas,

Que veja escuro o lume das estrelas,

Em cuja vista o meu se acende e mata;

 

E se o tempo, que tudo desbarata

Secar as frescas rosas sem colhê-las,

Mostrando a linda cor das tranças belas

Mudada de ouro fino em bela prata;

 

Vereis, Senhora, então também mudado

O pensamento e aspereza vossa,

Quando não sirva já sua mudança.

 

Suspirareis então pelo passado,

Em tempo quando executar-se possa

Em vosso arrepender minha vingança.

 

                      Luís de Camões