Não Adentre a Boa Alma Apenas com Ternura

Se um dia entrares no porão Escuro e Mofado de minha alma, adentres com calma, com uma langorosa, e até fogosa, torturantemente, lenta, aura. Penetres com fôlego pesado, lerdo e úmido. Pise com Pincéis (botas de batalha) em vidro trincado. Ouça cada Ruído e Estalar, eles contam meus segredos de invejar. Venha com passos silenciosos de um trovão; com palavras congelantes vindas do verão. O bombear de meu sangue, leva as paredes à Sandice! Sopras aqui, ventos imóveis, minutos inertes. Não adentres a boa alma apenas com Ternura. Ódio alimentes por aquela maldita, extinta, falsa Luz, que hoje aqui não mais fulgura.

Venhas com duas Fogueiras – florescentes – em seu rosto, e que por elas fujam Pequenos Rios. Um Lobo de lodo e loucura nos rodeia aqui, seu olfato persegue o olvido ocultando o orgulhoso orvalho de nacionalidade íntima. A Coragem mora a margem do Medo, no meio mora o rio que não consigo transpor (por receio que evapores ao atravessardes). No fim de vosso braço, cinco Luzes tocam-me o rosto, energizando meu Espectro, levando-me a perder aquele medo de perder tudo que tenho. Não adentres a boa alma apenas com ternura. Tenhas aquela Fúria que flutua pelo Inferno, contra esta putrefata Luz que já não fulgura!