Naufrágio
Se porventura eu lhe permitir acessar à zona abissal do meu desarranjado íntimo, você seria capaz de jurar não se apavorar com a ausência de luz?
Não dará meia volta de pressa ao se deparar com tralhas acumuladas, vestígios de um antiquado Eu, que permanece presente? Talvez não suporte o cheiro fétido de um pretérito desamparado.
Eu sou um eterno caso inacabado. Desassistida por mim, me nego à mergulhar em águas profundas, pois no mar eu nunca soube nadar. Mantenho por apego carcaças de navegações que um dia soube marear.
Ainda seria capaz de jurar?
Juras não são feitas ao vento, não se perdem com o tempo, esteja ele agradável ou não. Eu desejo que jure, não só com suas palavras pares e primorosos versos que me envolvem, mas de completo e honesto coração.