A manhã de vinhos e amoras terminou

com o grito do clarino ecoando

pelos umbrais de um teatro de aragens

assolado pela suavidade do vento

e tremeado de raios de sol...

 

O arrepio percorreu as veias

e o sangue verteu dos olhos

como lágrima de uma partitura inacabada.

 

Me perco na cadência frígia dos cravos

e meu violino fica mudo,

enquanto o sol vira rotina das horas

e se perde em meio aos empezinhos de par de um.

 

Olho pela janela em esperas que nunca chegam.

Aguardo o allegro final, o ápice sem dor...

A emoção caminha pelo peito em movimento de luzes.

Sinto-a tatuando sentimentos na pele alva e nua.

Ouço as pás dos moinhos redemunhando brisas

numa cadência improvisada do que é o tempo.

Cada pausa inesperada cala fundo na alma...

 

Sou marfim de rosas

- pétala seca vagando em águas e marés -

e me perco em adagios interiores,

enquanto o sol faz o canto do allegro

e se embrenha em trilhas e caminhos

- sem espinhos - em busca de só nós dois...

 

Inspirada no adagio do Concerto de Brandenburgo No.3 BWV 1048 de Bach.