Entre mim e ti
Entre mim e ti há uma parede
Há uma muralha de silêncio
Um grito abafado sem direcção
Um prado que devia de ser verde
Um sonho agreste, prolongado e extenso,
Uma estátua fria sem coração!
Entre mim e ti há tantas dores
Há tantas aguarelas por pintar
Que as cores transformam-se em desejos
Os desejos procuram os sabores
E os sabores desejam, quem, ao amar,
Saiba pôr a Alma num só beijo.
Entre mim e ti só há pálidas lembranças
Instantes vestidos de martirios
Águas instaladas em poços virgens
Berços embalados sem crianças,
Pela vida, tantos passos como lirios
A que os nossos dois destinos não se cingem.
Entre mim e ti há ódio e vingança
Há um vento pulmunar agreste e frio
Que nos corre pelas veias sem razão
vai e volta sem parar, perdemos confiança,
Seguimos à deriva como um rio
E abandonamos à sorte o coração.
Nossas vozes perderam a vontade de falar
Nossos olhos não se tocam nem desejam
É tudo tão diferente ao que eu pedi
Mais vale dizer adeus do que chorar
Pois nossas bocas separadas não se beijam
Por haver tanta coisa má entre mim e ti.