Entre mim e ti

Entre mim e ti há uma parede

Há uma muralha de silêncio

Um grito abafado sem direcção

Um prado que devia de ser verde

Um sonho agreste, prolongado e extenso,

Uma estátua fria sem coração!

Entre mim e ti há tantas dores

Há tantas aguarelas por pintar

Que as cores transformam-se em desejos

Os desejos procuram os sabores

E os sabores desejam, quem, ao amar,

Saiba pôr a Alma num só beijo.

Entre mim e ti só há pálidas lembranças

Instantes vestidos de martirios

Águas instaladas em poços virgens

Berços embalados sem crianças,

Pela vida, tantos passos como lirios

A que os nossos dois destinos não se cingem.

Entre mim e ti há ódio e vingança

Há um vento pulmunar agreste e frio

Que nos corre pelas veias sem razão

vai e volta sem parar, perdemos confiança,

Seguimos à deriva como um rio

E abandonamos à sorte o coração.

Nossas vozes perderam a vontade de falar

Nossos olhos não se tocam nem desejam

É tudo tão diferente ao que eu pedi

Mais vale dizer adeus do que chorar

Pois nossas bocas separadas não se beijam

Por haver tanta coisa má entre mim e ti.

Ricardo Maria Louro
Enviado por Ricardo Maria Louro em 06/09/2023
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