Mulher de Poetar

 

Vou, devagar e sem alarde.

Vou asas em polvorosa

misturando-me

ao algodoado das paineiras

que flutuam docemente

em tua janela do tempo.

 

Vou! Vou devagar

em direção ao cume

da montanha

abraçada pela névoa.

 

Olhos cegos em meio à neblina

sigo o cheiro das estações

que emanam

de tua pele amadeirada

e almiscarada de argan...

 

Ouço o vento meigo

batendo nos vitrais

envergados de passados

e memórias.

 

Sinto as areias do tempo

sendo contadas, aparando

as arestas do futuro

dia a dia.

Por isso, 

é urgente a ida!

 

Vou! Às vezes,

de proa virada,

- corpo de tormentas,

vendavais ao Norte

ciclones ao Sul -

cais solitários e vazios,

mas embutidos de amor!

 

Me espera:

"eu espero!

 

Mas, vem devagar

mulher de minha vida!

Vem devagar,

para que eu não pereça

de amor súbito!

 

Aguardo você,

mulher de poetar,

no alto da escada,

porta aberta

e o coração em erupção,

para o seu adentrar".

 

Vou! Vou lá, homem

de desenhar flores

em pedras...

Aguarde

o meu chegar!

 

Vou lá fazer você feliz,

embriagar-te

da minha presença,

aferir sentido ao teu dia,

acordar teu estro sútil,

debruçar meu frio

sobre o algodoar

de tua estrela,

meu beijo

desenhado

em teus lábios,

minhas mãos perdidas

em tuas terras...