Tão formosa...

Tão formosa, és semelhante

À alva flor da cerejeira.

E como um anjo entre os mortais

Surges da minha vida à beira.

Nem bem tu tocas o tapete,

A seda soa ao teu pisar

E da cabeça até os pés

Pairas num sonho, a flutuar.

Das dobras longas do vestido,

Como do mármore, ressais,

Presa a minh’alma aos olhos teus

Cheios de lágrimas e ais.

Ó sonho meu feliz de amor,

Noiva suave, de outras lendas,

Não me sorrias! Se sorrires

Tua doçura me desvendas.

Podes, no encanto da tua noite,

Deixar-me os olhos sempre baços

E com o murmúrio de tua boca

No frio enredo dos teus braços.

Súbito, passa um pensamento

No véu do teu ardente olhar:

É a renúncia penumbrosa,

Sombra de doce suspirar.

Te vais e eu bem compreendi

Não mais deter o passo teu;

Perdida, sempre, para mim,

Noiva imortal no peito meu!

Pois ter-te visto é culpa minha,

Da qual jamais terei perdão;

Expiarei sonho de luz

A mão direita erguendo, em vão.

Ressurgirás como uma aura

Da eterna virgem, de Maria,

Em tua fronte uma coroa...

Aonde tu vais? Voltas um dia?

ROGERIO WANDERLEY GUASTI
Enviado por ROGERIO WANDERLEY GUASTI em 22/08/2023
Código do texto: T7867271
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