O quartel.

Meu colega de quartel tinha o apelido de coelho.

Tinha os dentes da frente avantajados, proeminentes.

Seu nome real, não lembro.

O apelido sobressaia.

Um dia, Coelho me viu saindo mais cedo do quartel.

Isso o incomodou.

Eu estava autorizado pelo comando pois me preparava para o vestibular.

Ao saber disso, Coelho não resistiu e falou, maldosamente:

" ... pobre gosta de cachaça _ o Braga quer ser medico. "

Tentando com isso me diminuir, insinuando que eu não conseguiria atingir o objetivo.

O tempo passou.

Cumprimos o período de obrigações militares.

Nunca mais vi Coelho _ mas suas palavras sempre ecoavam em meus ouvidos.

" ... pobre gosta de cachaça - o Braga deseja ser medico."

Cursei Medicina.

Meu primeiro emprego foi no CTI do Hospital Miguel Couto, em frente ao quartel.

Um dia, estava de plantão.

Pedem_me para atender um paciente grave que havia chegado.

Aproximo_me e noto os dentes incisivos avantajados.

Não havia dúvidas !

Era Coelho.

Chego perto _ ele me reconhece.

E balbucia meu nome.

O suor descia pelo rosto pálido.

Havia medo em seu olhar.

Pânico, talvez.

Não resisti e lembrei_lhe:

" ... pobre gosta de cachaça _ o Braga deseja ser medico."

Pensei.

Respirei fundo.

Cocei a cabeça.

Conversei com Deus.

Em seguida, salvei o Coelho.