Ventania

Começa uma ventania estranha.

Barulhos e até tremores.

Todos sabemos do suicídio inumano climático.

Chegou o momento de pagarmos o preço?

O fim tão óbvio por nossa negligência é agora?

O que resta é resquício de amor.

Todos na casa me procuram.

Assustados.

Sou a referência.

Pedem socorro.

Peço calma.

Embora seja um pedido obviamente inútil.

Mas é uma forma de tentar algum controle.

A tormenta só aumenta.

Cheiro o perigo e meço o vento.

O lugar menos inseguro é realmente meu quarto.

Tragam seus cobertores.

Depois do pânico, vem a aceitação e o cansaço.

Proponho: é noite de domingo. Minha cama é grande.

Vamos nos agasalhar e deitar juntos.

Nos aconchegamos uns nos outros com vontade de se entregar a vida.

Ela, sem consciência da escolha, foi a que grudou em mim.

Fim.

Fernando Tamietti
Enviado por Fernando Tamietti em 06/08/2023
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