Ventania
Começa uma ventania estranha.
Barulhos e até tremores.
Todos sabemos do suicídio inumano climático.
Chegou o momento de pagarmos o preço?
O fim tão óbvio por nossa negligência é agora?
O que resta é resquício de amor.
Todos na casa me procuram.
Assustados.
Sou a referência.
Pedem socorro.
Peço calma.
Embora seja um pedido obviamente inútil.
Mas é uma forma de tentar algum controle.
A tormenta só aumenta.
Cheiro o perigo e meço o vento.
O lugar menos inseguro é realmente meu quarto.
Tragam seus cobertores.
Depois do pânico, vem a aceitação e o cansaço.
Proponho: é noite de domingo. Minha cama é grande.
Vamos nos agasalhar e deitar juntos.
Nos aconchegamos uns nos outros com vontade de se entregar a vida.
Ela, sem consciência da escolha, foi a que grudou em mim.
Fim.