A CHICO, O MEU AMOR
A CHICO, O MEU AMOR
Para Chico Buarque
O meu amor tem um jeito que não é manso
deita comigo como se não fosse para sempre
quando aquece a boca saliva línguas e versos
e intérprete arrebato-a com todos os dentes
O meu amor tem um jeito que é todo manso
dorme em redes como se fosse para sempre
depois desfaz ócios em disposições frementes
e assim se lança à cama tântrico e pungente
eu sou um menino, viu? nesse teatro
um incipiente ator: onde finda meu ato?
O meu amor tem um jeito que não é manso
ronda mares e mundo: eólico, rodopiante
em terras marinheiro mareia a minha cama
e entrego a ele um arsenal todo em chamas
O meu amor tem um jeito que é todo manso
em outras cenas épico, tenso, caótico, ranço
em outras horas faz de mim o seu desmundo
e desbrava as minhas matas densas, profanas
eu sou um menino, viu? nesse teatro
um incipiente ator: onde começa meu ato?