Minha Paineira
Minha Paineira
Velha amiga, altaneira, vigilante, postada no alto de uma colina.
Vivia só, tinha espaços vazios onde todos admiravam seu porte.
Abrigava passarinhos que felizes emitiam seus cantos de encantos,
Seja no entardecer sereno ou no alvorecer de um novo dia.
Busquei já menino suas sombras que atenuavam meu cansaço,
Pois peregrino sempre alcancei seus galhos para minhas tropelias,
E feliz, desafiando alturas, contemplava horizontes tão longes,
Onde avistava as matas e o esplendor do sol se pondo atrás dos montes.
Já moço, bucando outros caminhos que só meu coração entendia,
Conheci o amor numa criatura frágil de encantos que me cativou,
E apresentei minha anfitriã que você acolheu com tamanha ternura,
Oferecendo suas sombras generosas onde depois buscamos abrigo.
Muitas vezes no seu tronco vigoroso descansamos nossos corpos cansados,
Das caminhadas nos campos floridos onde buscamos todas as flores,
E de lá, extasiados, olhando bem longe, horizontes amplos avistamos,
Com a brisa suave escutando nossos segredos tão doces sussurados.
Na primavera, velha paineira, vestias de branco todos seus galhos,
Soltando suas painas que balançavam ao vento caindo devagar, sem pressa,
Para perpetuar sua espécie que já se extenuava e logo iria terminar,
Germinando na terra as sementes para fecundar sua nova geração.
Velha amiga que tantos sonhos nós buscamos para trocar confidencias,
Nada restou, pois um dia minha anfitriã partiiu sem te ver para fazer despedidas,
E você também, que busquei para amenizar as saudades que não cessam,
Não vi mais, seu porte vigoroso tombou para jamais se levantar.
Jairo Valio