Ainda sou você
Ainda procuro teu cheiro no meu corpo
Torpe e enganado
Te encontro nos cantos dos meu braços
Na beirada de meus lábios
Debaixo de minhas unhas
No fundo de meus olhos
E acho também nossas tardes
Entre os porta-retratos no corredor
Canso de debulhar meus sonhos
Fico, persisto, desisto, consigo
Não me suporto mais
Porque só te vejo em mim
Arranco meus cabelos
Encolho, recolho, num novo ângulo
Choro debaixo do chuveiro
Me admiro por entre seus braços
Mas tudo sonho, devaneio, utopia, enfim
E de repente me vejo no espelho
Reparando um reparo no canto do quarto
Uma cena que me foge do espaço e do tempo
Perco a noção do que eu sou, do que fui
Na dor de não te ter, me rebaixo,
Me calo, não grito, vivo revolta,
Me reviro, faminto de mim mesmo,
E novamente, de repente,
Me pego sorrindo
pensando em nós
Porque um dia eu fui
ainda sou você
Sempre serei você.