Separação
De repente as fotos do casal somem das redes sociais.
Aqueles sorrisos de companhia feliz não estão mais
à disposição dos invejosos, dos admiradores.
Você olha e agora tem um vazio. Há um homem solitário
e noutra página, uma mulher sozinha.
De repente não há mais romance, o ciúme sumiu.
O coração que batia acelerado, rítmico tal qual bateria
de escola de samba, perde a cadência.
O brilho nos olhos se perdeu na opacidade
do rito de desapaixonar.
O amor, lindo amor, perde forma, a química
se desfez e já não ativa mais a dopamina, feniletilamina
e muito menos a ocitocina.
Agora é só um coração vazio de um homem só.
Agora é só um coração vazio de uma mulher só.
E tudo fica distante. Os filhos, a casa, a roupa
o jeito de dar bom dia. Tudo morre um pouco em vida.
Mesmo que se tente a felicidade em outros braços,
percebe-se um certo luto, um dessabor.
Separar o que foi bom é morrer um pouco.
O luto vem até de quem não vive a história.
Pode-se dizer, por línguas e olhares alheios,
que aquele homem e aquela mulher, agora,
separados estão felizes. Será?
Veja o olhar, sinta a tristeza e o vazio.
Note-se que choraram, cada um no seu canto.
E para reviver, só o tempo, sim, só o tempo,
cruel, implacável, bondoso, que arrasta todo
ser vivo apenas assistindo tudo, e tudo e nada
fazendo. Até que um novo amor, um novo colo,
reacenda a chama, que salva aquele homem só,
aquela mulher só. Ainda assim, o que marcou
para sempre ficou no coração de quem amou.