CANÇÃO DA SOLIDÃO

Minha linda bonequinha,

ouça bem o que lhe digo,

eu lhe acho uma gracinha

e sou muito seu amigo.

Por isso, quero que saibas bem,

você é feita de açúcar e farinha de trigo.

Assim sendo, acredito que não convém,

próximo das águas, você, procurar abrigo.

Fique bem longe do riacho,

se não quiser vira comida dos peixinhos.

Seu corpinho é tão frágil, que eu acho,

outro igual não há, de tão fraquinho.

Há outras inúmeras brincadeiras,

que você pode se divertir bastante,

por isso tenha boas maneiras,

pois o perigo, lhe será sempre constante.

Minha linda bonequinha,

ouça bem o que lhe digo,

eu lhe acho uma gracinha

e sou muito seu amigo.

De farinha de trigo, fiz seu corpinho

e do açúcar extrai toda a sua doçura.

Tome muito cuidado em seu caminho,

pois tenho por você, muito amor e ternura.

Se o tempo estiver chuvoso.

por favor, obedeça, não saia de casa não.

Pois seu lindo corpinho pode ficar horroroso.

E se a chuva lhe derreter, perderá sua perfeição.

Assim lhe foi dado o alerta pelo criador.

Quer viver alegre e por longos anos?

Então haja com respeito e mais amor,

evitando desilusões e desenganos.

A vida é muito curta para se viver.

Então saiba como aproveita lá bem,

pois de outra forma e por muito sofrer,

você não poderá culpar a ninguém.

A escolha por caminhos errados,

sempre nos causará dor e arrependimento.

Enquanto o pranto tardio, inutilmente derramado,

em nada lhe aliviará o seu sofrimento.

Bons conselhos não são ouvidos, infelizmente.

E deixando levar pela fala de outras bonecas lindas,

saiu de casa e se misturou a tanta gente,

sem perceber que estava sendo iludida.

O tempo fechou se e rapidamente escureceu.

Enquanto aquela linda bonequinha tão doce e pura,

já não mais sabia ao certo o que lhe aconteceu,

por que a noite tão rapidamente ficou tão escura.

Olhou a sua volta e se sentiu abandonada.

Um grande temporal começou então.

A chuva forte que caía, a deixava toda molhada,

enquanto ali sozinha, não encontrava mais solução.

Seu lindo corpinho, tão bem delineado,

agora aos pouquinhos ia se transformando,

em um físico destruído e todo deformado,

sem forma e como outrora jamais lembrado.

Por sorte, um gari, por ali ia passando.

Ao vê-la caída, ergueu a daquele frio chão.

Deu-lhe de vestir a blusa que estava usando

aquecendo a com o calor de seu coração.

Assim meio sem jeito e um pouco acanhado,

o gari preocupado, procurou protege lá.

Levou á para casa, enxugou lhe o corpo molhado

e ainda fez uma fogueira para aquece lá.

E enquanto a conversa discorria, entre os dois,

o que para ela era grande dor, agora se amenizava.

Trataram de tudo, sem deixar nada para depois

e uma nova vida de sonhos bons, ali, iniciava.

O gari sempre muito amável e delicado,

procurava lhe dar o que ele tinha de melhor.

Sempre alegre, zelava por ela com muito cuidado,

dando lhe, casa, comida, carinho e muito amor.

E por vezes ele assim lhe dizia:

- Minha linda bonequinha,

ouça bem o que lhe digo,

eu lhe acho uma gracinha

e sou muito seu amigo.

Por isso, quero que pense muito bem.

Você é feita de açúcar e farinha de trigo.

Assim sendo, acredito que não lhe convém,

envolver se com pessoas que lhe cause perigo.

Fique bem longe desse tipo de gente,

que procuram tirar lhe de seus trilhos.

Quero lhe ver sempre contente,

desde que seja longe do perigo.

Seu corpinho é frágil, muito delicado

e você para mim é muito importante.

Procuro lhe proteger com cuidado

e penso em você a todo instante.

Por isso dou lhe roupas, sapatos e perfumes

e o que espero de você é só reciprocidade.

Confesso lhe abertamente, não tenho ciúmes

e o que almejo é somente nossa felicidade.

O tempo foi passando cauteloso e lento

entre o gari e a boneca encantada.

Até que surgiu um grandioso evento,

que sacudiu os pensamentos da amada.

Naquela grande noite o gari trabalhava,

e não podia com ela participar da festa,

mas, eis que do nada surgi lhe as amigas.

Venha conosco, era só você que nos faltava.

A noite promete ser boa, com bebidas e serestas.

Assim colocaremos em dia as conversas antigas.

E falaram tanto que a doce boneca deixou se levar.

Se produziu qual uma grande estrela noturna,

e como se aquela grande noite nunca fosse se acabar,

tomou emprestado até mesmo os anéis de saturno.

Enquanto o gari trabalhava pensando na amada,

dentro do salão todos queriam um pouco daquela,

que ali brilhava, com seu encanto e deslumbramento.

De tão envolvida não percebeu a madrugada.

Ambiente fechado e com poucas janelas,

não havia como perceber lá fora, o escurecimento.

A noite chovia com trovões e muita ventania.

As pessoas desapareceram, assim como as amigas

e em seus ouvidos só restou a canção da solidão.

Aos poucos foi lhe chegando uma grande agonia.

Onde estou? Como voltar a casa que me abriga?

E assim ficou, tresloucada dentro da escuridão.

Sem saber onde estava enfrentou o temporal.

E a cada passo que dava, perdia um pouco de si.

Até que por fim, no meio da rua, foi atropelada.

Quem poderia ter lhe causado aquele grande mal?

E do caminhão de coleta de lixo, desceu o gari

que ao se aproximar não encontrou mais nada.

O tempo e o temporal das noturnas noites

roubou daquela lida bonequinha encantada

tudo o que de melhor nela havia.

Assim o gari tristonho, tendo o pranto como açoite,

abaixou se ao chão e recolheu o que restou da amada.

Roupas, sapatos e perfumes, agora sem mais nenhuma alegria.

E por vezes em seu cociente repetia...

- Minha linda bonequinha,

não foi capaz de ouvir

o que sempre tentei lhe dizer,

eu lhe achava uma gracinha

e mesmo sendo muito seu amigo,

não posso decidir por você.

E assim voltou para casa o gari,

levando consigo o que dá amada restou.

Fez se uma grande vitrine luxuosa e atraente.

E dentro dela ele carinhosamente colocou ali,

as roupas os sapatos e o perfume que sobrou,

daquela que outrora lhe fazia viver tão contente.

E é por isso que até hoje todas as mulheres,

ao verem uma vitrine, ficam deslumbradas

e com um sentimento misto de dor e prazer,

com o que tem dentro da mesma.

Dores de Guanhães (MG), 03 de julho de 2023.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 03/07/2023
Código do texto: T7828669
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