Como traduzir você?

 

Também penso neste "resto"

que vive em minhas angústias e perguntas.

Se me colhe de surpresas,

se me surpreende em meu andar

de serenidade ou ansiedades,

na noite, no dia, no amanhecer ou adormecer...

é porque mais me questiono e reflito sobre o ser,

o viver o sentimento que sou.

Eu sou, me sei ser e me sei puro sentimento

à transbordar dos olhos, a luzir meu coração e me deixar entregar,

aquietada de paz, em tuas mãos.

 

É neste questionar-se, perguntar-se sobre tudo que eu e você vivemos

que se encontra o que temos de mais precioso em nós -

a espera que avança (a esperança) de que tudo pode ser

como nós sonhamos ou como almejamos e espera+amamos...

 

E, diz o filósofo, pensar neste resto é pensar no lugar

onde a percepção não faz mais sentido algum.

E onde o leitmotiv da vida, o que nos move

é o sentimento de que é preciso tomar uma decisão

e tentar decifrar o enigma do mundo (em Morin).

 

Mas me pergunto eu: como decifrar o enigma do mundo,

do cosmo, se o cosmo, o mundo está em meu interior, vive dentro de mim?

E como decifrar, traduzir em palavras que quem vive em mim é você?

E se você vive em mim o todo, o cosmo é você...

Então... Como decifrar o mistério de que o mundo é você dentro de mim?

 

São montanhas imensas que só me mostram o seu topo inalcançável

as incógnitas que me decifram enquanto eu ainda me pergunto:

como traduzir tua existência ancestral hoje em minh'alma e coração?