Cadê Você?

E me perguntas: cadê você?

E se ando perdida de novo dentro do espírito calvo?

 

Sou pássaro canoro, preciso me alimentar

se Bem-te-vi, no teu quintal alimento não há

me permuto em ave trecheira, viajeira,

e voo em busca de sobras de colheita

que alguns poetas deixam nos campos

onde semeiam suas amendoeiras...

 

Busco a alma do poeta de antigamente

e a encontro no espírito calvo

de uma sociologia inexplicável

uma filosofia interminável

nas métricas do X da questão

do sujeito à flor da pele...

nele deslizo achar palavras

que me alimentem o espírito,

a alma, o coração...

 

Cadê você? me pedes, angustiado.

por onde andas perdida?

Estacionada em algum cais,

no barco de algum navegante?

Ou largada dos bons deuses

que a toda hora se renovam?

 

Nasci aventureira, arco e flecha na mão.

Sou da palavra guerreira,

mas escrevo com o coração...

Na secura de teu jardim

busco água pra beber

e alimento para de fome não morrer

e continuar a entregar amor

a quem, de propósito, me nega o pão...

 

E me questionas:

cadê você? que partiu, de graça...

Ninguém pediu...

Alma universal vive agruras

de um tempo que revivi?

 

Quem vive e revive sou eu,

o destino que tua mão me deu...

Se me mandas ir vou indo

se me mandas vir, vou vindo...

sempre fazendo o que não decidi...

se me coubesse decisão

ficaria sempre perto de ti...

 

Bordo em você meu espaço,

mas sempre voas pra longe

em busca de territórios

que não me deixas adentrar...

E fico de longe olhando,

- asas pequenas e enfraquecidas -

não posso mais teu voo alcançar.