O jardim de um só botão

com a brejeirice de flores do campo

e a suntuosidade de uma rosa rainha

ela carregava consigo as primaveras

embora tivesse um ímpeto de galinha

eu não passava dum pombo arrulhento

arrastando por ela minhas jovens asas

desejava o cálice e as pétalas macias

e corria por ela os meus pensamentos

mas só alcancei-a na terra de Morfeu

cerrei os olhos, então, para meu delito

e tal como se lhe roubasse um beijo

tomei-lhe um botão, em ousado gesto

e eu teria posado ali para um mármore

como o Paolo e a Francesca, do Rodin

mas ela voltou com jabuticabas abertas

desfez o meu tempo no ápice do desejo

e eu só lembro do high-five nas estrelas

ao voltar de Las Leñas, por Marrakech

jamais reclamou o seu botão apanhado

na aquiescência, fiz com ele um jardim

regado com silêncio de não desabrochar

Antonio L
Enviado por Antonio L em 28/06/2023
Código do texto: T7824516
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