O jardim de um só botão
com a brejeirice de flores do campo
e a suntuosidade de uma rosa rainha
ela carregava consigo as primaveras
embora tivesse um ímpeto de galinha
eu não passava dum pombo arrulhento
arrastando por ela minhas jovens asas
desejava o cálice e as pétalas macias
e corria por ela os meus pensamentos
mas só alcancei-a na terra de Morfeu
cerrei os olhos, então, para meu delito
e tal como se lhe roubasse um beijo
tomei-lhe um botão, em ousado gesto
e eu teria posado ali para um mármore
como o Paolo e a Francesca, do Rodin
mas ela voltou com jabuticabas abertas
desfez o meu tempo no ápice do desejo
e eu só lembro do high-five nas estrelas
ao voltar de Las Leñas, por Marrakech
jamais reclamou o seu botão apanhado
na aquiescência, fiz com ele um jardim
regado com silêncio de não desabrochar