Na Concha das Horas

Leva o teu sorriso,

por favor leva pra longe.

Leva o que puderes,

leva as minhas dores todas.

Leva o teu olhar,

e leva o que mais achares

pra que eu silencie

de uma vez no teu silêncio.

Guarda o teu amor

num lugar que não existe.

Deixa, eu mesma lavo

o que nos sobrou de triste.

Pelo nosso quarto,

pela cama no deserto

eu vou sacudir

a dor sangrante desse adeus.

Leva o teu rancor:

é teu espelho por dentro.

Leva o que couber

no teu coração vazio.

Deixa meus escudos.

Deixa, eu fugirei do frio

mesmo que viaje

à neve das cordilheiras.

Mas a noite é longa,

nas tristezas e nas malas.

Leva tudo agora,

que a manhã sempre demora.

Deixa, eu mesma espanto

o que tanto ainda me cala

e o teu desamor me dói mais

quando nem falas.

Mas quem sabe amigo...

um dia eu te lembre

no beijo esquecido

na palma do tempo

na concha das horas.