POUCA-VERGONHA (versos livres)
Talagada por talagada a pinguinha branca me bate no bucho e a amarelinha na minha cara. Depois das dez doses, antes que eu leve tombo, pela amada o marmelo me bate no lombo.
Não choro, nem emburro, nada revido, e para mais tarde guardo a vingança. Tempero as horas, longe dos tapas, esperando o efeito das malvadas tomadas sair de vez da cachola durante o banho curador; na grande gamela molhada.
E, assim que a Lua dá as caras jogando na vida seu alto lume, eu cheiroso de perfume, com brilho de dente escovado, no jardim por mim esmerado colho uma rosa que para ela é entregada.
Então é que... no bailado da rede com a brisa, enamorado pelos seus lindos olhos, feliz suplico a ela por um monte de formas de amor para outra sova ser levada.
Dessa peia me entrego de gosto, até o Sol gritar para mim e para ela, logo depois do alvorecer, como rei de voz gafonha: “Chega dessa pouca-vergonha...”.
E ele, como o rei dos raios dourados; o mundo clareia. A luz do novo dia me pega da ressaca curado e a ela satisfeita.