no topo do prédio
ao subir contava os degraus
maneira de aliviar o peso da cabeça
mas já havia planejado tudo
em silêncio
conseguia ver meu movimento entre a penumbra
percebi que seria minha última memória
seria rápido e frio assim como o único sopro que o céu deu ao entardecer
em silêncio
nenhuma buzina gritava mais que o meu pensamento
iria encontrar o meu deus
já sou culpado
dessa vez não estaria sozinho
ao chegar lá
escutei sons
escutei amor
o que desviou de mim agora brilha sob minha pele
meus cabelos recebem carinho das mãos que formam pelas correntes do vento ali presente
vi a delicadeza
gentil doce toque
do segredo sob o novo luar
senti o calor da música a tocar
e vi duas almas com calma à festejar
a vida
o desenho da maçã quando os dedos dela deslizavam sobre o rosto de sua amante
a celebração
do olhar livre ao campo de visão dela se conectar
ao silêncio de ponta a ponta que só duas amantes sabem explicar
eu vi a graça descansar nos ombros dela, pois abrigo só encontra em quem tem motivos para ficar
e assim que voltei aos meus pensamentos
decidi sair de lá
sem nem lembrar do motivo no topo do prédio chegar